4.2.19

Querida Nani (2),

Te tenho como uma amiga. Você ouvia minhas crises quando não conseguia compartilhá-las com mais ninguém.

Estava falando no Instagram esses dias que, pra mim, comida é algo emocional, psicológico e muitas vezes solitário. A indústria alimentícia é pensada pra nos viciar e adoecer.
Nossa boca é a nossa conexão mais profunda com o mundo... é por onde absorvemos literalmente parte do mundo pra sobreviver, como uma promessa de que somos humanos e não somos auto-suficientes.
E adoecer isso é meio que adoecer tudo...

Acho que quis ser auto-suficiente e consumir o mínimo possível porque tive medo do que o mundo tem pra me oferecer. Mas pessoas como você me ajudam a buscar soluções criativas.

Então, estou pegando firme na minha recuperação e criei um Instagram pra postar minha rotina alimentar e o que tem me ajudado. Se você tiver Instagram, vamos nos seguir? O user é @cozinhaespiritual :)
Só estou aceitando pessoas próximas e contas ligadas à alimentação.

Todo sucesso pra nós!

2.2.19

Nosso corpo sabe mais e melhor

Ontoje (ontem pra hoje de manhã) foi um daqueles dias. Sobrevivi com apenas 2 bananas (uma delas no estilo chips feita na minha maior aliada, a Air Fryer) e pipoca. O que mais é afetado é o meu humor. Absolutamente tudo me machuca. Ser exposta a situações que exigem que eu reaja (ande, fale, seja eu mesma) é geralmente um inferno, mas a fome me dá a sensação de magreza.
Percebi que meu corpo vem se acostumando a minhas dietas, e não emagreço mais de fato. E vendo todos ao redor comendo 5x mais que eu e tendo o mesmo resultado... manutenção de peso. Que desânimo. E o medo de voltar a comer e engordar o triplo agora que meu metabolismo está ferrado?

Outra estratégia do meu corpo (ou, ainda, uma consequência da fome) é me fazer pensar em comida 24/7. Em jejum, eu cozinho no The Sims, assisto realitys culinários, competições de 1kg de comida, salvo receitas no Instagram. No começo, isso satisfazia minha necessidade emocional de comida. A longo prazo, isso é muito, muito cansativo.
Há relatos de que nas guerras os soldados sonham (literalmente, durante a noite) com comida frequentemente.
Quanto mais eu faço jejum, mais comida começa a parecer algo de outro mundo, envolvida em brilhantina, coberta de uma aura tão mágica de felicidade quanto o corpo "perfeito" com que sonho. Me senti presa em um labirinto onde só há caminhos fechados.
Pesquisei músicas com o tema "comida" no Spotify e apareceu uma conta de Podcast (por Betsy Thurston, se alguém tiver interesse) que ajuda a melhorar padrões alimentares - feita especialmente pra quem sofre de transtornos alimentares. Parece que o metódo é psicológico e embasado em pesquisa científica, diferente dessas baboseiras motivacionais. Parece que foi um sinal do próprio Deus...

Esses dias sonhei que era semana de conscientização do câncer de mama e uma voluntária pedia pra me examinar. Mas em vez de fazer o toque, ela me fez várias perguntas "gatilho" que me fizeram perder a cabeça. Surtei em público e ela seguiu anotando as respostas como se nada estivesse acontecendo. Depois, fez o toque e constatou que eu tenho um nódulo no seio esquerdo.
- Agora eu tenho que descobrir se é benigno, né?
E ela:
- Eu já vi, é maligno. Agora você tem que fazer tratamento. Pode levar de meses a anos, e aviso que vai doer muito.
Aí eu corri pra escada de incêndio e fiquei lá até me acalmar. Quando voltei, estava num colégio e ninguém queria sentar perto de mim (sabiam do que tinha acontecido).

Sonhei com minha necessidade de fazer tratamento e o medo de rejeição se as pessoas descobrirem o meu problema. Nesse dia, tentei contar pro meu namorado que tenho anorexia sem usar a palavra "anorexia". Sinceramente, achei que ele fosse surtar, mas ele ficou tranquilo. Disse que eu tenho um "desejo belo" com culinária e posso encontrar paz se souber administrar e devo me alimentar bem pra controlar a ansiedade.
E de fato, não só jejuar mas o próprio fato de estar com o IMC abaixo do normal aumenta a ansiedade e o estresse.

Mas minha maior inspiração pra comer hoje foi meu corpo. 
Quando como demais (compulsivamente), fico pesada e estressada. Quando como pouco, fico fraca e estressada. E ultimamente, eu só tenho alternado entre os dois...
No auge da minha fome e assistindo Ratatuille, fechei os olhos e consegui comer. E fiz um prato nem maior e nem menor que a minha fome.

30.1.19

Rafael me faz querer viver.

Claro que depois de voltar a comer normalmente, tive crises de compulsão alimentar. E claro que as compulsões me levaram a ganhar peso. De 45,5 fui pra 48 e voltei a me privar de comer. Parcial ou totalmente. Comia uns biscoitos de manhã e me sentia tão culpada que não comia mais nada o dia todo. Não precisa me dizer que isso é ruim, eu não posso evitar.

Mas...foi difícil. O problema de voltar a comer é que eu engordo e me sinto um lixo e é muito difícil voltar a passar fome. E eu só emagreço de forma que me deixe satisfeita quando passo fome.
Mas,aos trancos e barrancos, reacostumei meu corpo a comer pouco. Isto é, passar uns dois dias com quase nada no estômago e só passar mal na noite do segundo dia. Controlar os mal-estares com bananas, copos de leite e...água.

Com essa rotina, voltei a variar entre 45 e alguma coisa e 46 rapidamente. Minha mãe voltou a reclamar da minha magreza, em toda oportunidade (mesmo as inoportunas). Fico feliz e assustada.
Eu amo o Rafael e sou feliz quando estamos juntos. Ele me faz querer emagrecer porque me elogiou quando perdi peso...mas me pergunto se está desconfiando de algo. Hoje marcamos de nos encontrar na hora do almoço e eu disse que almoçaria em casa porque estava mal do estômago. Depois vi que ele ficou meio preocupado e confessei: "olha, na verdade, eu menti...." e ele: "você não almoçou?" e eu "almocei, mas disse que tava mal do estômago pra não comer na rua porque acho besteira gastar dinheiro assim". Ele ficou aliviado. Mas foi tão automático o "você não almoçou?" e, bom, eu não almocei.

Planejava passar o dia à base de uma banana, uma bananinha (o doce sem açúcar), água e leite. Mas acontece que saímos e ele me deixou com mais vontade de viver. O que significou comer algo significativo quando cheguei (fiz uma omelete com dois ovos e três fatias de queijo mussarela light). Me pergunta se me sinto culpada? Gostaria de dizer que não, mas me sinto.

Também, quando cheguei em casa tive uma queda de pressão e já não estava mais tão bem. Parecia que ia começar a tremer ou desmaiar. Reuni todas as minhas forças físicas e espirituais pra preparar essa omelete. Obrigada, Deus. Se eu desmaiasse com minha mãe em casa, seria o fim.

Espero que esteja bem, quem quer que esteja lendo. Eu estou vivendo meu céu e meu inferno (ao mesmo tempo), como sempre.

21.1.19

Talvez eu suma...

Desde o começo eu sabia que meu problema com meu corpo não é um problema com meu corpo. É um problema com meu sentimento de não-pertencimento. Minha dificuldade de falar em público, ter interesses intensos, assunto, minha não-naturalidade sexual e baixa auto-estima.

Sim, são muitos problemas. Depois que entrei na faculdade e tive contato com o "mundo adulto", isso só piorou. Presa no limbo da dependência financeira, não posso perseguir certos interesses como meus colegas. Não tenho grana pra beber depois da aula ou da exposição (faço faculdade de Teoria, Crítica e História da Arte), pra viver no Plano Piloto e não vou de carro pra faculdade.

Não me lamento pelas dificuldades, mas por ainda não ter "subido na vida". Alguns de meus colegas vem de situações parecidas, mas acharam um jeito de se virar: são autodidatas: vendem publicações independentes ou fazem ilustrações por encomenda. Alguns até tatuam. Eu não sei fazer nada... pareço menina rica de novela que depois fica pobre e não sabe trocar uma lâmpada. Mas eu nunca fui rica (risos).

Pra não ser tão má comigo mesma, escrevo poesia e algumas pessoas gostam. Tenho alguns bem tensos e impublicáveis (e talvez eu deva tentar publicar por justa causa) sobre anorexia. Mas o mercado literário está em crise. Ninguém dá valor a escritores brasileiros a menos que eles sejam YouTuber's ou tenham uma escrita altamente comercial e óbvia (como a do @akapoeta, que por acaso é da minha cidade e já admitiu que escreve apenas pra ganhar a vida, sem nenhum compromisso aritístico ou transformador).

Sou racional e sei que, para triunfar, eu precisaria de muita sorte.

Enfim, eu fui infeliz na escolha do meu curso. É mais um mercado complicado e em crise. Quem liga pra artes visuais no Brasil? Isso mesmo, (quase) somente o público especializado, composto por outros artistas, escritores de arte, curadores, historiadores, etc... um sistema altamente vicioso e dependente de retro-alimentação. Talvez seja preciso preencher outros espaços para que a vida se aproxime da arte... o fato é que, sem a troca com o público não-especializado, pra mim o curso foi perdendo o sentido.

Mas as universidades públicas também estão em crise. A menos que eu tenha um ótimo plano, seria burrice abandonar a oportunidade de uma formação superior na minha idade e na atual conjuntura política.

Mas digamos que surgiu uma oportunidade...um concurso pra nível médio técnico ligado à Assistência Social. Preciso estudar algumas Políticas Nacionais e leis, mas digamos que é a minha cara. "Know your rights", como diz a tatuagem da Angelina Jolie (conheça seus direitos). A maioria dessas diretrizes foram criadas pelo governo Lula. Daqui a alguns anos, o que será que as pessoas estudarão em Assistência Social?

Enfim, agarrei essa chance. A taxa de inscrição foi R$85,00 (pra mim é muito dinheiro), então vou estudar bastante e...comer pra sustentar o estudo. Talvez eu suma, talvez eu volte em eventuais crises. Obrigada por esses dias, Nani. Estou sempre torcendo por nós.

"Healing is a process waiting paciently for you to allow it" (a cura é um processo esperando pacientemente a sua autorização).

19.1.19

Como pode uma salada ter 442 calorias?

Como estou sempre pensando em comida, sempre tenho o que escrever aqui. Primeiro, uma possível dica: estou acompanhando uma nutricionista no YouTube (a Bia Saito) e descobri que é altamente recomendável cortar embutidos da dieta. Todo dia um "alimento" aparentemente inofensivo se revelando fatal, não? Exemplos de embutidos: salsicha (ok, esse sabíamos), presunto, peito de peru. E não importa se é light, porque se trata do ultraprocessamento, os elementos químicos, enfim. Não é só uma questão de calorias, mas como o alimento age. Isso explica celulites...
Felizmente eu já vinha cortando embutidos sem saber há algum tempo, já que quase sempre como Cottage. Falando nisso, outra "receita": pão integral do tipo brioche + queijo Cottage + frango desfiado na Air Fryer. Depois de pronto, é só colocar orégano pra dar aquele frescor.
O cardápio de hoje: almoço - arroz integral, filé de peixe à milanesa e salada juliana (não sei quantas calorias ao certo pois o restaurante não divulga, mas é à la carte, ou seja, muita comida);
jantar - cheesburger Madero FIT (464 kcal, 24g de gordura) e salada Madero FIT (442 kcal, 28g de gordura);
O madero divulga a informação nutricional na Internet, então só soube quando cheguei em casa. Na minha cabeça, a salada teria menos (pra quase nada) de calorias e gordura, e no final tinha mais? Que diabos aconteceu com essa salada? Inclusive, a cumbuca de batata frita tem 213 kcal e só 13,75g de gordura. Me sinto sabotada.
Pelo menos, o hambúrguer compensou pedir FIT, já que o comum tem mais de 700 kcal e o FIT é tão delicioso quanto. Se eu soubesse, nem tinha comido a salada. Tentando não surtar...

No mais, meu namorado anda meio estressado (não comigo, precisando de mim) então chamei ele pra um piquinique no parque segunda, então não poderei compensar essas kcal extras tão cedo. Mas sei que vai ser bom pra nós. Vou levar os brioches que passei a receita e morangos com banana fatiados com leite em pó. Talvez um café sem açúcar, que ele gosta.

Querida Nani,

Assisti o vídeo que você recomendou. Me lembrou da minha relação minha amiga B. Parecia eu e ela, lado a lado, quando falo das minhas inseguranças. Esse mês fomos ao shopping e tinha uma loja cheia de brusas cropped lindas, coloridas, que eu adoraria usar mas sei que nunca sairia do guarda-roupa, caso comprasse. E eu comentei como ficava triste de não conseguir usar esse tipo de roupa, pois daqui a uns anos vou me achar velha demais pra isso.
Mas diferente da Thaís, ela não é muito paciente e ficou irritada comigo. Insistiu pra eu provar e, como eu previa, não me senti bem expondo tanta pele, já que não me acho tão bonita.
B. é gorda. Eu sei que deve ser ofensivo pra ela eu dizer que não consigo usar um cropped por causa das minhas banhas, mas... eu realmente não consigo. E me entristeço.

Quando comento com minha mãe sobre minhas inseguranças ela também fica "fula". Diz que eu só digo essas coisas pra chamar a atenção. Que meu nariz é perfeito, que meu corpo é magro, que meu cabelo é bonito. Mas bem... ela é minha mãe, tem o mesmo nariz que eu e fez rinoplastia. Tem o mesmo cabelo que eu e faz alisamento. Fez lipoaspiração. Prótese mamária. Ainda fez academia por anos... ou seja, tem uma silhueta linda contruída sobre dor e sofrimento, mas o que eu sinto não conta. Acho que tem transtorno de personalidade narcisista.

Outra prova: quase todas as semanas da minha vida, ouvi ela dizer que começaria uma dieta na segunda. E de fato, ela comia as besteiras dela e depois começava a comer comida de pinto. Comida de pinto, comida de pinto, comida de pinto, comida de pinto e algo muito calórico no meio, que ela não conseguia resistir. Se erguia e voltava pra dieta. A casa tinha menos refrigerante quando ela estava de dieta, menos chocolate, menos picolé, menos tudo isso.

Agora que isso seria conveniente pra minha dieta, ela mudou. Só mudou. Pode ter sido coincidência, mas acho que ela gosta de ser do contra ou o centro das atenções. Nâo pode ser igual todo mundo, ou igual eu. Então agora que eu faço dieta, ela faz absoluta questão de arroz branco, batata frita, coca-cola, cerveja, etc. Hoje fomos na padaria comprar pão integral pra mim e ela estava atrás de um... Red Velvet? Minha mãe nunca foi uma mulher de bolos. Aí não tinha Red Velvet e ela comprou um bolo de mandioca e outro de floresta negra. Comprou alfajor outro dia (que acho que até comentei aqui que cheguei a mastigar e jogar fora), sendo que nem ela e nem meu irmão fazem tanta questão.

Estou olhando pelo lado ruim? Sim. Sou uma pessimista em tratamento. Talvez ela não esteja sabendo lidar com minha - admito - obcessão e queira ver a filha dela de volta, feliz e comendo o que gosta. Porque tudo isso me deixa estressada. Ninguém pode olhar pra mim na rua que meu sangue ferve. Quando ela me olha, eu já imagino que vá me criticar ou falar de comida e meu sangue também ferve.

Na verdade, é difícil fugir desse assunto. "Onde foi fulano e beltrano?" R: "saíram pra almoçar". "Cresce o número de microempreendedores no DF" (imagens de brigadeiro e bolos, porque é o que a maioria vende). Não preciso abrir a geladeira pra pensar em comida porque se fala nisso o tempo todo. Os animais são basicamente comer, cagar e se reproduzir, então 1/3 de todos os assuntos tem a ver com comida. Tudo que você falou está certo: vai além de calorias e valores nutricionais. É humano (às vezes...dolorosamente humano).

No mais, acho lindo esses discursos de auto-imagem positiva. Tem um fundo de verdade em todos eles. Sim, beleza é subjetivo e o quê e como falamos, o que transmitimos tem um grande poder. Mas sou politicamente materialista, e eu sei que se sentir bem consigo não é suficiente perto dos nossos ícones de poder. E um corpo socialmente bonito (isto é, dentro do padrão) significa poder. Significa mais chances de participar de um reality show, conseguir um emprego, ter mais seguidores nas redes sociais (isso também afeta carreiras profissionais, especialmente as no ramo da escrita), enfim, ter sucesso, visibilidade e a própria existência validada.

Não que estar fora do padrão seja sinônimo de fracasso, mas o caminho é mais difícil. Você precisa, constantemente, se provar. E não tenho forças nem personalidade suficientes pra isso.

Estou há alguns dias comendo consistemente (qualidade e quantidade consideráveis) e parando de ficar fraca e tonta o tempo todo. Obrigada por me acolher, Nani, e não me julgar apesar das nossas diferenças.

18.1.19

Ainda 46

Na casa da minha avó, ninguém sabe comer. Para rápida explicação, é um lote com 3 casas e lá mora, além dela, minha tia e o marido e meus dois tios e primas. Não me entendam mal, eu não sou ignorante e sei que comida não é algo ruim. Mas também foi lá que eu aprendi a comer macarrão com arroz branco (nunca houve outra opção de arroz), misturar várias carnes e bater o famoso "prato de peão".
Morei lá até os 10 anos mas continuei passando a tarde inteira (isso inclui o almoço) lá quase até os 18. Eu chegava umas 13:00 e, como eles tem mania de almoçar 12:00, já deixavam um prato (ao estilo montanha) pronto pra mim no microondas. Insistência deles, eu preferia mil vezes escolher o quanto e o que comeria. Enfim, eu comia muito e mal de segunda à sexta apenas para não ofendê-los.
Até porque meu negócio com comida nunca foi essas comidas "de adulto". Pra mim nem devia engordar, pois não é tão bom. O que eu mais gostava de fazer era assistir série com um saco de batata frita e um copo de refrigerante gelados. De resto, com ou sem transtorno, não faço questão. Como feito um pinto.
Resumo da ópera: eu não sabia o quanto esse tipo de almoço (misturando carboidratos - ainda por cima simples) engordava e que ia tudo pra barriga. E eu sei que parte do meu juízo alimentar está comprometido, mas não há muito acesso à informação nutricional, ninguém se importa em divulgar ou promover isso no dia-a-dia. Por que minha mãe nunca me disse pra experimentar açúcares diferentes do comum, já que faz bem? Por que, nos aniversários e festas da vida, não presenteiam uns aos outros com chocolates meio amargos, pelo menos de vez em quando?
Por que não investem em alimentação saudável e consciente, mas gostosa e de qualidade? Para eles (não estou falando só da minha família), existem dois pólos: passar fome e/ou vontade, comendo gororobas (dieta) ou se entupir de industrializados, gorduras ruins e calorias vazias. Assim, realmente, é difícil.
Dormi na miha avó ontem. Sabendo dessa questão, levei marmita: arroz integral, frango desfiado, adoçante, um pão integral recheado de Cottage e Bananinha (o doce lá sem açúcar). Como. Me encheram. O saco. Além de oferecerem: pudim, danoninho, picolé, sorvete, bolo, esfiha, refrigerante (não estou exagerando), não respeitam minhas escolhas. Convenhamos que, com o que levei, não passei fome. Mas não há respeito. Minha tia, que semana passada me elogiou por estar esbelta, começou a falar que sou nova demais pra essa alimentação e que devia, na verdade, fazer academia. Eu quero, tia. Não tenho com o que pagar.
Mas ela insistiu dizendo que modelaria meu corpo, eu teria bunda, peito, coxas e ainda assim seria sequinha. Que ficaria flácida e continuaria barriguda (compartilhei minhas frustrações com ela) se apenas mudasse a alimentação e perdesse peso rápido. Isso me enlouquece, porque não tenho mais o que fazer. Nunca vou ter o direito de ser atraente e me sentir bem comigo mesma? Nunca?
Minha avó disse que estou horrorosa. Mas não oferecem soluções decentes, e sim bombas calóricas e sugestões inviáveis. Família só deixa a gente triste. Não consegui dormir nada e voltei pra casa muito estressada.
Desculpem por cuspir tudo isso aqui. Como sempre, obrigada pela preocupação de todas. Estou me esforçando para estar o melhor possível.

Ser uma falsa magra (pessoa magra com barriga) é foda. Chorei horrores. Já estou fazendo tudo que posso na alimentação e continuo emagrecendo sem perder gordura abdominal.
A sensação é de que meu corpo é meu inimigo.

17.1.19

Ouvindo I Will Survive da Gloria Gaynor ("It took all the strenght I have not to fall apart"....) e cozinhando.

Nas primeiras semanas de anorexia eu consumia cerca de 350 calorias por dia (não sabia que estava doente). Nem sabia o quanto isso era extremo, porque não tinha sequelas imediatas.

Mas hoje, se eu como, eu passo mal. Se eu não como, eu passo mal.

Hoje comi.
Almocei arroz integral com cenoura e frango desfiado. Porções consideráveis, de gente. Antes comia menos que uma criança.

Depois, minha amiga ligou perguntando se podia vir. Eu tinha acabado de almoçar (por volta das 15:00) e ela tinha almoçado meio-dia. Ofereci um lanche e, por educação, acabei comendo com ela. O tal do pão integral com queijo, tomate e orégano. Fiz café com açúcar e bebemos com leite integral.
Porque ela me faz muito feliz... e felicidade me faz esquecer, um pouco, a doença.

Pensei que fosse me sentir disposta por ter comido bem, mas estou fraca e cansada. Tenho acessos de tontura e um fundo de vômito na boca (apesar de nunca ter forçado vômito). Estou mal.

Também comemos uns quadrados de chocolate meio-amargo. Agora estou na minha avó, vou dormir aqui pra ela não ficar sozinha. Meus primos (de 3 e 4 anos) estarão aqui pela manhã, então também trouxe meus camundongos pra eles brincarem.

Obrigada a quem comentou desejando minha recuperação.
Eu tento.

16.1.19

Das substituições

Cresci acreditando que azeite é tempero de salada, quando é um tipo de gordura muito saudável pra fritar carnes que ainda ajuda na eliminação de gordura abdominal. No sabor, substitui óleo sem prejuízos (não sei em relação a comidas banhadas em gordura como coxinha e pastel, mas funciona bem no dia-a-dia).

Mas açúcar... ah, como açúcar faz falta! Estou tomando um Stévia em gotas, mas na próxima comprarei Zero Cal (que já comprovei que é mais doce). Stévia quase não faz diferença.

Tenho feito sucos de frutas (esses que "precisam" ser adoçados pra ficar tragáveis, como limão) e sinceramente viram um purgante. Cortei os refrigerantes 0 açúcar como H2OH e Coca Zero pois, convenhamos, são refrigerantes. Ajuda a corroer o estômago (o que no caso de uma pessoa anoréxica, que já corrói sozinha pela falta de comida, é grave. Pode resultar em gastrite nervosa e úlceras: a última coisa que preciso!) e também o dilata (fazendo a barriga parecer maior e precisar de mais comida pra sensação de saciedade). Mas confesso que me ajudaram no começo, quando meu paladar ainda era viciado.

Uma substituição (saudável e boa pro paladar) que fiz foi carboidratos simples por carboidratos complexos (isto é, arroz e pão brancos por integrais, macarrão simples por integral). Quero ficar boa da anorexia, mas vou levar comigo as mudanças positivas. Receita que faço com pão integral: cobrir uma fatia de pão integral com queijo Frescal, tomate, orégano e deixar na Air Fryer até o pão endurecer! Parece pizza, mas não parece que o estômago vai explodir (a Air Fryer é uma grande aliada). Outra: pão integral do tipo brioche recheado com frango desfiado, alface e um tomatinho opcional. Fica bom gelado ou quente.

Sempre tentem (se quiserem emagrecer) zelar pela saúde e bem-estar. Beijos!

Desabafo

Será que cheguei "na Ana"?

Minha relação com a comida está completamente diferente.
Minha libido sexual, quase nula. Vontade de estudar, trabalhar (por mais que queira muito), é difícil manter, me concentrar numa atividade. Toda a minha atenção está focada no meu corpo: imagem e sensações.

Pesos do dia: 45.9 (manhã), 46 (antes do almoço), 45,9 (tarde).
Queria melhorar, mas isso vai além de voltar a comer. Mas voltei a comer arroz (integral), tentei focar em substituições saudáveis em vez de aniquilações.
Anorexia não é um hábito alimentar, é um doloroso estado de consciência (do qual o hábito é consequência).

Meu metabolismo está parando no tempo. Eu sei que se comesse de três em três horas coisas leves e fizesse caminhada, obteria resultados melhores. Diz se eu consigo... Comer me dói na alma. Então eu aniquilo, aniquilo, aniquilo.

Sou aniquilada.

Hoje comi poucas gramas de frango desfiado, salada... e à tarde tentei fazer uma sobremesa Low Carb, porque só tenho pensado em doces. Minha mãe comprou uma bandeja com quatro alfajores, e eu cheguei a mastigar e cuspir um inteiro na madrugada (sendo que odeio desperdício).

A sobremesa ficou uma merda. Era um cookie à base de farinha oleoginosa (linhaça marrom), ovo, manteiga, essência de baunilha, adoçante e "gotas de chocolate" por cima (que eu substituí por pedaços de chocolate 60%). Virou uma farofa.

Tentei comer um pouco da massa e catei o chocolate derretido e comi depois de pronto (no total, uns quatro quadradinhos de uma barra de chocolate). Joguei o resto fora. E estou tão cheia que acho que não vou comer mais nada. Não é "compensação". Realmente, não comi quase nada e parece que minha barriga vai explodir.

E isso assusta.

Obs.: Como é o primeiro post, me sinto na obrigação de esclarecer: isto NÃO É um Blog "pró-ana". Não recomendo nem desejo pra ninguém que vivam como eu vivo. Inclusive, sinto muito de publicar essas coisas na Internet. Preciso muito de uma amiga.