21.1.19

Talvez eu suma...

Desde o começo eu sabia que meu problema com meu corpo não é um problema com meu corpo. É um problema com meu sentimento de não-pertencimento. Minha dificuldade de falar em público, ter interesses intensos, assunto, minha não-naturalidade sexual e baixa auto-estima.

Sim, são muitos problemas. Depois que entrei na faculdade e tive contato com o "mundo adulto", isso só piorou. Presa no limbo da dependência financeira, não posso perseguir certos interesses como meus colegas. Não tenho grana pra beber depois da aula ou da exposição (faço faculdade de Teoria, Crítica e História da Arte), pra viver no Plano Piloto e não vou de carro pra faculdade.

Não me lamento pelas dificuldades, mas por ainda não ter "subido na vida". Alguns de meus colegas vem de situações parecidas, mas acharam um jeito de se virar: são autodidatas: vendem publicações independentes ou fazem ilustrações por encomenda. Alguns até tatuam. Eu não sei fazer nada... pareço menina rica de novela que depois fica pobre e não sabe trocar uma lâmpada. Mas eu nunca fui rica (risos).

Pra não ser tão má comigo mesma, escrevo poesia e algumas pessoas gostam. Tenho alguns bem tensos e impublicáveis (e talvez eu deva tentar publicar por justa causa) sobre anorexia. Mas o mercado literário está em crise. Ninguém dá valor a escritores brasileiros a menos que eles sejam YouTuber's ou tenham uma escrita altamente comercial e óbvia (como a do @akapoeta, que por acaso é da minha cidade e já admitiu que escreve apenas pra ganhar a vida, sem nenhum compromisso aritístico ou transformador).

Sou racional e sei que, para triunfar, eu precisaria de muita sorte.

Enfim, eu fui infeliz na escolha do meu curso. É mais um mercado complicado e em crise. Quem liga pra artes visuais no Brasil? Isso mesmo, (quase) somente o público especializado, composto por outros artistas, escritores de arte, curadores, historiadores, etc... um sistema altamente vicioso e dependente de retro-alimentação. Talvez seja preciso preencher outros espaços para que a vida se aproxime da arte... o fato é que, sem a troca com o público não-especializado, pra mim o curso foi perdendo o sentido.

Mas as universidades públicas também estão em crise. A menos que eu tenha um ótimo plano, seria burrice abandonar a oportunidade de uma formação superior na minha idade e na atual conjuntura política.

Mas digamos que surgiu uma oportunidade...um concurso pra nível médio técnico ligado à Assistência Social. Preciso estudar algumas Políticas Nacionais e leis, mas digamos que é a minha cara. "Know your rights", como diz a tatuagem da Angelina Jolie (conheça seus direitos). A maioria dessas diretrizes foram criadas pelo governo Lula. Daqui a alguns anos, o que será que as pessoas estudarão em Assistência Social?

Enfim, agarrei essa chance. A taxa de inscrição foi R$85,00 (pra mim é muito dinheiro), então vou estudar bastante e...comer pra sustentar o estudo. Talvez eu suma, talvez eu volte em eventuais crises. Obrigada por esses dias, Nani. Estou sempre torcendo por nós.

"Healing is a process waiting paciently for you to allow it" (a cura é um processo esperando pacientemente a sua autorização).

1 comment:

Nani Fonseca said...

Que legal!
Um trabalho concursado dá aquela estabilidade para as pessoas poderem seguir os seus sonhos. O meu não é concursado, mas, a empresa parece ir bem, apesar da crise (sou secretária).
Estude um pouco sobre Tecnologia da Informação (TI), para você poder colocar as "artes visuais" junto com os aplicativos, programas... Essas coisas bem modernas.
Fico na torcida!!!
Até uma próxima.