4.2.19

Querida Nani (2),

Te tenho como uma amiga. Você ouvia minhas crises quando não conseguia compartilhá-las com mais ninguém.

Estava falando no Instagram esses dias que, pra mim, comida é algo emocional, psicológico e muitas vezes solitário. A indústria alimentícia é pensada pra nos viciar e adoecer.
Nossa boca é a nossa conexão mais profunda com o mundo... é por onde absorvemos literalmente parte do mundo pra sobreviver, como uma promessa de que somos humanos e não somos auto-suficientes.
E adoecer isso é meio que adoecer tudo...

Acho que quis ser auto-suficiente e consumir o mínimo possível porque tive medo do que o mundo tem pra me oferecer. Mas pessoas como você me ajudam a buscar soluções criativas.

Então, estou pegando firme na minha recuperação e criei um Instagram pra postar minha rotina alimentar e o que tem me ajudado. Se você tiver Instagram, vamos nos seguir? O user é @cozinhaespiritual :)
Só estou aceitando pessoas próximas e contas ligadas à alimentação.

Todo sucesso pra nós!

2.2.19

Nosso corpo sabe mais e melhor

Ontoje (ontem pra hoje de manhã) foi um daqueles dias. Sobrevivi com apenas 2 bananas (uma delas no estilo chips feita na minha maior aliada, a Air Fryer) e pipoca. O que mais é afetado é o meu humor. Absolutamente tudo me machuca. Ser exposta a situações que exigem que eu reaja (ande, fale, seja eu mesma) é geralmente um inferno, mas a fome me dá a sensação de magreza.
Percebi que meu corpo vem se acostumando a minhas dietas, e não emagreço mais de fato. E vendo todos ao redor comendo 5x mais que eu e tendo o mesmo resultado... manutenção de peso. Que desânimo. E o medo de voltar a comer e engordar o triplo agora que meu metabolismo está ferrado?

Outra estratégia do meu corpo (ou, ainda, uma consequência da fome) é me fazer pensar em comida 24/7. Em jejum, eu cozinho no The Sims, assisto realitys culinários, competições de 1kg de comida, salvo receitas no Instagram. No começo, isso satisfazia minha necessidade emocional de comida. A longo prazo, isso é muito, muito cansativo.
Há relatos de que nas guerras os soldados sonham (literalmente, durante a noite) com comida frequentemente.
Quanto mais eu faço jejum, mais comida começa a parecer algo de outro mundo, envolvida em brilhantina, coberta de uma aura tão mágica de felicidade quanto o corpo "perfeito" com que sonho. Me senti presa em um labirinto onde só há caminhos fechados.
Pesquisei músicas com o tema "comida" no Spotify e apareceu uma conta de Podcast (por Betsy Thurston, se alguém tiver interesse) que ajuda a melhorar padrões alimentares - feita especialmente pra quem sofre de transtornos alimentares. Parece que o metódo é psicológico e embasado em pesquisa científica, diferente dessas baboseiras motivacionais. Parece que foi um sinal do próprio Deus...

Esses dias sonhei que era semana de conscientização do câncer de mama e uma voluntária pedia pra me examinar. Mas em vez de fazer o toque, ela me fez várias perguntas "gatilho" que me fizeram perder a cabeça. Surtei em público e ela seguiu anotando as respostas como se nada estivesse acontecendo. Depois, fez o toque e constatou que eu tenho um nódulo no seio esquerdo.
- Agora eu tenho que descobrir se é benigno, né?
E ela:
- Eu já vi, é maligno. Agora você tem que fazer tratamento. Pode levar de meses a anos, e aviso que vai doer muito.
Aí eu corri pra escada de incêndio e fiquei lá até me acalmar. Quando voltei, estava num colégio e ninguém queria sentar perto de mim (sabiam do que tinha acontecido).

Sonhei com minha necessidade de fazer tratamento e o medo de rejeição se as pessoas descobrirem o meu problema. Nesse dia, tentei contar pro meu namorado que tenho anorexia sem usar a palavra "anorexia". Sinceramente, achei que ele fosse surtar, mas ele ficou tranquilo. Disse que eu tenho um "desejo belo" com culinária e posso encontrar paz se souber administrar e devo me alimentar bem pra controlar a ansiedade.
E de fato, não só jejuar mas o próprio fato de estar com o IMC abaixo do normal aumenta a ansiedade e o estresse.

Mas minha maior inspiração pra comer hoje foi meu corpo. 
Quando como demais (compulsivamente), fico pesada e estressada. Quando como pouco, fico fraca e estressada. E ultimamente, eu só tenho alternado entre os dois...
No auge da minha fome e assistindo Ratatuille, fechei os olhos e consegui comer. E fiz um prato nem maior e nem menor que a minha fome.